O mundo estava calmo e cheio de si na tarde que acabara de começar; o céu, despido pelo sol escaldante da África, pendia abstrato sobre uma paisagem quase estática e empoeirada, esculpida em tons de sépia. Os movimentos eram poucos, os animais vagavam com seus corpos lânguidos, e, relutantes, absorviam a aridez que vertia flutuante. A respiração era arrastada, cansada, sonolenta.
No centro de tudo havia uma árvore, o grande Baobá, ou Adansônia. A árvore, que preenchia com sua presença pesada o horizonte, tinha raízes tão grossas e profundas quanto a própria terra, da qual tirava a opulência de sua majestade e na qual permanecia despreocupada e roliça. A rotina ardente da savana florescia em seu arredor, e, sob a proteção de sua sombra, um felino bocejava. Apenas os insetos, inconscientes que são de toda a existência, trilhavam ocupados seus caminhos entre rachaduras e galhos que nunca acabariam de explorar.
A árvore era infinita, não sabia os porquês de o ser pois ninguém havia lhe dito. Apenas existia, compreendendo uma lógica de tempo bastante simples: um dia era semente, um dia era árvore, um dia era nada. Um dia um felino bocejara preguiçoso em sua sombra; um dia a tarde cedeu lugar à noite, lentamente; um dia escuras nuvens de tempestade se aproximaram vaidosas e barulhentas, mas a árvore já não lembrava se era o mesmo dia, ou o mesmo século.
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